Todos que nasceram perto do mar sabem como ele é traiçoeiro, mesmo quando previsível. Vi muitas vezes barcos em dificuldades. Lembro me aquela primavera, devia eu ter uns 12 ou 13 anos quando um barco de pesca de camarão ficou em dificuldades mesmo frente a nossa casa. Parecia estar tão perto. Visto com os binóculos imaginava poder tocar os quatro homens lutando pela vida nas ondas que passavam por cima do barco. Depois de muitas tentativas bombeiros e tripulação de helicóptero conseguiram fixar uma linha da praia até ao barco. Três homens conseguiram chegar a praia, exaustos. O quarto não tinha forças para o fazer. Um jovem veio correr para falar com os três e depois vimo-lo entrar na água pela linha. Ia buscar o avô dele. Mais tarde vimos a ambulância levá-los. O neto salvou-se, o avô não.
Barcos em risco e vidas que se perdem costuma ser notícia que vende. Contudo o pequeno barco de pesca no qual morreu um velho foi só noticia local. As causas são deficientemente tratadas, mesmo quando o assunto rende. Não se falava dos riscos que os pescadores de camarão tomavam só para não cair ainda mais por baixo do limiar de pobreza.
Um grande barco afunda e centenas de pessoas morrem. A notícia vende melhor. Como causa são apontados traficantes de refugiados e migrantes. Não se aprofunda porquê é que avôs se afastam de netos, filhos de pais e mães, entregando todas as suas economias para pagar o desespero de se deixar levar num barco. Não se refere como o exagerado lucro de gestores de capitais leva populações inteiros para a ruína. Os mortos nem sequer ganham rosto e os que ficam podem nem guardar uma imagem do rosto a não ser na sua memória.
Por coincidência um pequeno submarino recreativo afunda-se e o grande barco deixa de ser notícia. Cinco passageiros pagaram exageradamente para uma excursão recreativa sem com isso gastar as suas economias. Morreram também. As operações de busca foram grande notícia durante uma semana. Os nomes ganharam rosto. Mas não se fala muito das causas que levam a embarcar em aventuras de alto risco pessoas que parecem ter tudo para viver bem.
Falo de relações entre pessoas.
No íntimo, perder um neto, um avô, uma filha, neta, mãe ou pai, rico ou pobre, num acidente repentino em mar, ar ou terra dói sempre. Muito.
Sem julgar as opções recreativas e dos valores pagos para tal, posso questionar com os meus netos a diferença entre quem parece não ter outra opção a não ser colocar a sua vida em risco e quem parece ter a opção de escolher a aventura que quer viver, por mais cara ou perigosa que seja.
Barcos em risco e vidas que se perdem costuma ser notícia que vende. Contudo o pequeno barco de pesca no qual morreu um velho foi só noticia local. As causas são deficientemente tratadas, mesmo quando o assunto rende. Não se falava dos riscos que os pescadores de camarão tomavam só para não cair ainda mais por baixo do limiar de pobreza.
Um grande barco afunda e centenas de pessoas morrem. A notícia vende melhor. Como causa são apontados traficantes de refugiados e migrantes. Não se aprofunda porquê é que avôs se afastam de netos, filhos de pais e mães, entregando todas as suas economias para pagar o desespero de se deixar levar num barco. Não se refere como o exagerado lucro de gestores de capitais leva populações inteiros para a ruína. Os mortos nem sequer ganham rosto e os que ficam podem nem guardar uma imagem do rosto a não ser na sua memória.
Por coincidência um pequeno submarino recreativo afunda-se e o grande barco deixa de ser notícia. Cinco passageiros pagaram exageradamente para uma excursão recreativa sem com isso gastar as suas economias. Morreram também. As operações de busca foram grande notícia durante uma semana. Os nomes ganharam rosto. Mas não se fala muito das causas que levam a embarcar em aventuras de alto risco pessoas que parecem ter tudo para viver bem.
Falo de relações entre pessoas.
No íntimo, perder um neto, um avô, uma filha, neta, mãe ou pai, rico ou pobre, num acidente repentino em mar, ar ou terra dói sempre. Muito.
Sem julgar as opções recreativas e dos valores pagos para tal, posso questionar com os meus netos a diferença entre quem parece não ter outra opção a não ser colocar a sua vida em risco e quem parece ter a opção de escolher a aventura que quer viver, por mais cara ou perigosa que seja.